Dois trabalhos apresentados na edição de 2023 do encontro da Sociedade Norte-Americana de Cirurgiões de Mama mostram que a recomendação de rotinas de exercícios para pacientes com câncer de mama oferece benefícios que vão do incremento à qualidade de vida até a redução de despesas com saúde.
Do mesmo modo, a implementação de outras estratégias para promoção do bem-estar pode ser interessante inclusive em outras fases do tratamento. Um dos estudos apresentados, por exemplo, avalia os possíveis benefícios da chamada pré-habilitação, que compreende o período antes da introdução quimioterapia e/ou da cirurgia.
O impacto dos exercícios em pacientes com câncer de mama nos custos com saúde
O primeiro estudo tinha como objetivo determinar como os exercícios físicos poderiam influenciar nos custos de saúde de pacientes com câncer de mama. Com esse fim, uma amostra de 243 mulheres diagnosticadas com a doença foi reunida. A partir disso, elas foram divididas em dois grupos.
Metade das mulheres foi orientada a seguir uma rotina de exercícios físicos em um programa de 12 semanas, contadas a partir da realização da cirurgia contra a doença. O segundo grupo não teve qualquer recomendação para a prática de atividades físicas nesse mesmo período.
O programa de exercícios indicado propunha que as mulheres acumulassem ao menos 150 minutos de atividade física semanal, de intensidade baixa ou moderada (como caminhadas e exercícios usando pesos, por exemplo). Antes do início das 12 semanas de acompanhamento e no fim do período, as voluntárias responderam questionários sobre sua qualidade de vida (incluindo a percepção de sintomas como a fadiga, comum em pacientes com câncer).
Enquanto o grupo que se engajou nos exercícios teve uma melhora na percepção da própria qualidade de vida, a parte das voluntárias sem recomendação de atividade regular registrou uma estabilidade nesses indicadores.
Além disso, as pacientes que se mantiveram ativas tiveram menos registros de procura por assistência médica. O número de entradas em serviços de emergência dessas pacientes, comparado ao grupo de controle, foi 33% menor. Já os atendimentos em ambulatório hospitalar caíram 21% e as visitas ao consultório médico alcançaram uma redução de 41%. Ainda que pequeno, o estudo ajuda a reforçar a contribuição dos exercícios físicos nos desfechos de quadros de câncer de mama, principalmente aqueles ainda em estágios iniciais.
Os benefícios da pré-habilitação para a qualidade de vida de pacientes oncológicas.
O segundo estudo mencionado na introdução mostra que os programas de pré-habilitação podem ser úteis para pacientes em outros estágios do tratamento. A pré-habilitação consiste em um conjunto de medidas para promover o bem-estar antes de uma intervenção. Dentro do estudo destacado, essas medidas poderiam anteceder a cirurgia ou a quimioterapia.
Para mensurar os possíveis benefícios, um grupo de pesquisa canadense reuniu 72 pacientes. Elas foram divididas em grupos que seguiram ou não uma série de recomendações envolvendo a prática de exercícios físicos, acompanhamento nutricional e controle do estresse. As orientações envolviam o período pré-cirurgia, incluindo as sessões de terapia neoadjuvante. Em paralelo, as pacientes foram acompanhadas por um período de até 12 meses.
As pacientes que aderiram ao programa de pré-habilitação apresentaram melhores indicadores de qualidade de vida imediatamente após a quimioterapia e até 6 meses depois da cirurgia. Isso inclui, por exemplo, menor sensação de fadiga e maior capacidade funcional para caminhar.
Logo, tal conclusão pode indicar como intervenções capazes de promover o bem-estar podem ter resultados significativos na redução de desconfortos durante e depois do tratamento. Ainda assim, estudos maiores são necessários para determinar a real eficácia de iniciativas do gênero.
Na prática, ambos os estudos podem ajudar com que médicos e pacientes avaliem a relevância de recomendações adequadas sobre exercícios para pacientes com câncer de mama em diferentes estágios do tratamento. Em geral, a promoção de hábitos capazes de promover um maior bem-estar são viáveis e não exigem grandes recursos, principalmente quando se considera o retorno obtido em diferentes âmbitos.